CENÁRIO INICIAL
Desde o final dos anos 50 convivo com búfalos.
No início, simplesmente acompanhando o trabalho que meu tio, José Lauro de Arruda Camargo, desenvolvia na Fazenda Sabauna, em Tietê – SP.
Debaixo de um clima de desconhecimento, muitos entusiasmados bubalinocultores de então, empolgados com a célebre e pouco questionada previsão de W. COCKRILL, – (A PROTEÍNA DO FUTURO SERÁ VERMELHA, E DE BÚFALO) rapidamente embarcaram na idéia de que os búfalos iriam expulsar todos bovinos da face da Terra…
Naquela época, resolveram jogar no mesmo time, aqueles pecuaristas que nunca conseguiram trabalhar, tampouco viver, sem acreditar em algo sobrenatural. O fascínio inebriante pela magia, fez com que elegessem, desta vez o búfalo como a nova “bola da vez”, o remédio que curaria todos os males de nossa pecuária.
Ato contínuo, muitos desses crédulos, ao exigirem que o “santo milagreiro búfalo” transformasse o nada que lhes ofereciam, em generosas produções de leite e carne, revoltavam-se contra esses animais por verem frustradas suas estúpidas e incabidas aspirações.
O Santo transformara-se em diabo…
Nesse tempo, em que toda essa confusão reinava soberana, confesso que jogava mais no time adversário dos búfalos, acreditando mais em sua eficiência em lavrar várzeas vietnamitas, trabalhar em arrozais chineses e transportar cargas na Índia. Além de tudo, imaginava que se um búfalo produzisse por dois bovinos, na certa comeria por três…
Foi nesse cenário de incertezas, no ano de 1969, que me dispus a pagar para ver, iniciando uma pequena criação destes animais, a partir de 10 (dez) fêmeas e 1 (um) macho, procedentes do plantel da SABAUNA. Eram animais com predominância de sangue Jafarabadi, variedade GIR. Neste mesmo ano de 1969, nascia meu segundo filho, André, hoje médico veterinário, que me auxilia desde 1995 nos trabalhos com nossos Jafas da BV.
CAMINHOS PERCORRIDOS
Desde o início de nossa criação, em 1969, procuramos coletar dados dos indivíduos do plantel, para que conhecendo-os melhor, pudéssemos embasar de forma mais eficiente o processo de melhoramento.
Outro princípio seguido foi o de não perseguir simultaneamente, várias metas ou objetivos de melhoramento. Acreditamos que, principalmente, quando se trabalha com reduzido número de animais, não se deve perseguir várias metas ao mesmo tempo para não vê-las todas fugirem de nossas mãos.
No início de nossa criação, (final dos anos 60) explorávamos o leite de nossas búfalas, e os descartes e apartações baseavam-se principalmente nos dados de produção de leite e duração das lactações.
Quando direcionamos nosso trabalho no sentido do melhoramento racial do Jafarabadi voltado para a aptidão de carne, nossa primeira meta foi buscar a homogeneização do nosso gado.
Nessa etapa, a principal ferramenta foi o uso da consangüinidade, mesmo sabendo dos riscos e de algum preço que inevitavelmente iríamos acabar pagando.
Tão logo concluímos ter razoavelmente alcançado esse objetivo, começamos a perseguir a melhoria dos índices de velocidade de ganho de peso e a maior rapidez de terminação de abate. Nesta fase temos dado bastante importância a dois índices, analisados separadamente:
Os ganhos diários na fase da amamentação e na fase pós-desmama.
No primeiro está presente uma forte influência materna, constituindo-se em importante facilitador na avaliação de nossas matrizes. O segundo índice, por decorrer mais de fatores genéticos, ajuda-nos na avaliação dos próprios animais.
De anos para cá, também temos levado em consideração, na apreciação de nossas matrizes, o estado corporal que elas apresentam no momento do parto, pela correlação que tem com o desempenho produtivo das mesmas.
Assim, entendemos que qualquer processo de melhoramento animal deva ser sempre dinâmico e interminável pois as metas constantemente são reavaliadas e alteradas. O próprio tipo, ou padrão racial deve sofrer correções de rumo com o passar de tempo, pois ele deve estar em sintonia com a função econômica pretendida, a qual, por sua vez, é ditada e alterada pelos verdadeiros donos da bola – os consumidores.
Apesar de todo dinamismo do processo, em nenhum momento deixamos de priorizar no nosso trabalho, os elevados índices de fertilidade, característicos da espécie bubalina, por considerarmos que são excepcionais legados da natureza, os quais, se não formos capazes de melhorar, temos a obrigação de conservar.